Estas coisas são complicadas. Quando o Zé Carlos disse "Que maravilha!" olhando para o mar, ninguém acreditou que aquilo era um simples louvor à natureza.
Mais tarde, já em casa, ele tentava justificar que aquela exaltação era só mesmo por causa do mar. E que não tinha culpa se, por coincidência, nesse mesmo instante a Ana Paula se tivesse levantado para reforçar o óleo brozeador pelo corpo, e “mesmo ali em frente”. E mais, ele nem sequer tinha reparado nas coxas grossas e nas nádegas redondas da Ana Paula. Muito menos no sinal ao pé do umbigo.
- Só faltou assobiares e ofereceres ajuda para passar o bronzeador. Francamente, Zé Carlos, logo tu, um homem da Igreja!
- Mas eu estava a olhar para o mar. E ele estava ali à minha frente, cheio de curvas, quer dizer, de ondas, tão bonito... Aquilo saiu-me.
Mas a Maria Celeste não quis ouvir desculpas. Serviu o ovo estrelado ao Zé Carlos – come e vê se te comportas decentemente - e foi dormir.
Na manhã seguinte os dois casais amigos voltaram a encontrar-se na praia. A Maria Celeste beliscou discretamente o Zé Carlos e disse-lhe, num sussurro:
- Vê lá como te portas, ouviste bem?
E o Zé Carlos, que não queria confusões, abriu o jornal e enterrou a cara nas notícias. Mas instantes depois, a Ana Paula (“que também é uma grande exibicionista”, diria mais tarde a Maria Celeste), levantou-se e repetiu o ritual polémico do dia anterior.
Ouviu-se um suspiro debaixo do jornal.
- O que foi? - perguntou a Maria Celeste agressiva.
- Nada, nada, é este Sporting. - disse o Zé Carlos. - Não sei, mas não estou com fé na manutenção...
- Ah, bom! - disse ela.
E o dia transformou-se num tormento para o Zé Carlos, que não podia nem tossir que todos olhavam desconfiados.
- E esses óculos escuros, Zé Carlos? Pra quê?
- Mas amorzinho, está tanto sol! Posso ferir a retina…
- Tira.
- Mas...
- Tira, Zé Carlos!
Ficção. Mais uma vez alerto que, qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.
Há 8 anos
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