domingo, 31 de maio de 2009

Forrest Gump

Assim como o título deste recado senti-me eu, hoje de manhã.

Uma manhã normal de praia, exceptuando que hoje decidi dar uma corridinha à beira mar. Qual o espanto quando, após uns minutos, olhando para trás vejo cerca de duas dezenas de pequenos seguidores. A cada metro o pelotão ia aumentando em número e agitação. O pequeno jogging matinal transformara-se, num ápice, numa mini maratona em que os gritos coordenados dos corredores iam marcando o ritmo.

Correr acompanhado é sempre melhor, mas não contava com esta experiência...


...E a corrida terminou com cansaço e aplausos. E um mergulho para refrescar.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

A Grande Final

- Então Domingos, quem ganha logo a final da Liga dos Campeões?

- Epá, vai ser o Barça. Vai ser duro, mas eu admiro 4 jogadores no Barça, no Manchester só tenho admiração por um, então o Barça ganha. Mais, o Barça tem uma táctica de losango lateral, já o Manchester joga em paralelepípedo. Por isso mesmo o Barça consegue.

Valeria a pena entrar em debate? Achei melhor concordar apenas...

Como os próprios admitem: "o Angolano fala muito à toa!"

P.S. - Para o ano vou tentar admirar todos os jogadores do Benfica. Seremos imbatíveis...

terça-feira, 26 de maio de 2009

Um pôr do sol assim...




... só Angola tem!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Hoje é...

sábado, 23 de maio de 2009

A primeira Gasosa*

Hoje fui batpizado com a primeira das famosas gasosas, pelas quais todos, um dia, têm que passar em Angola.

Sábado de manhã. Mussulo como destino para uns momentos de lazer num passeio de mota de água. Os preparativos habituais passam por colocar combustível, ligar a bateria e chamar o rebocador até à água. Até aqui tudo bem. Ou não...

Ainda antes de sentir a temperatura da água, eis que chega a nossa personagem de hoje, cheia de diplomacia:

- Meu Senhor, queira por favor facultar-me os documentos desse veículo motorizado. (mota de água é vocabulário de plebe, há que usar termos apropriados)

Eu sabia, de antemão, que estes eram os únicos documentos que eu tinha "como mandam as regras". Mas sabia, também, que de seguida ele iria pedir-me a licença de condutor, documento que ainda não tenho. Era um risco que sabia que iria correr, ainda antes de sair de casa, mas que não me inibiu de aproveitar uma das melhores coisas que este país tem a oferecer: um bom dia de praia.

- Aqui estamos cumpridores. Agora a sua licença se fizer o favor. (a educação em níveis sempre elevados)

- Pois Sr. Agente, eu já dei entrada nos documentos, mas acho que está um pouco demorado, a julgar pelo que os seus colegas dizem. Mas acho que mais uns dias e a licença sai. Às vezes as coisas aqui demoram um pouco. A burocracia, sabe como é...

- Você falou aí muita coisa, mas no fim de contas só para dizer que não tem licença, né?

- Sim, resumindo é isso...

A frieza inicial, extremamente profissional, começava a dar espaço a uma relação mais aberta, propícia à negociação que se adivinhava.

- Ya, tou a ver então. Você não tem licença e eu tou com "bué" de fome. Acho que podemos conversar... (e o profissionalismo acabara de vez)

- Sim, vamos conversar.

O Sr. Agente estende-me de volta os únicos documentos que eu lhe tinha dado, abrindo o pequeno livrete.

- Coloca só aí algum para o meu mata-bicho.

Assim fiz. 1500 Kwanzas (cerca de 15 euros) foram suficientes para eu, em 5 minutos, passar a estar habilitado a conduzir o veículo motorizado sobre a água. Podia, finalmente, partir rumo a um merecido dia de praia. Não sem antes um aviso do Sr. Agente, que voltara ao seu papel profissional:

- Vá com cuidado e respeite os sinais e a legislação. As normas devem ser seguidas.

E eu fui.


*gasosa: gíria local que denomina os actos de corrupção.

P.S. - Já dei, de facto, entrada nos documentos para a licença. O registo criminal e uma gasosa um pouco maior foram suficientes.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Dia do Homem

Hoje não houve Sr. Francisco. Após adiar, à custa de muito esforço e dedicação, lá cedeu à dor que teimava em atormentá-lo há algum tempo, tirando uns dias para repouso. Serão 10 dias sem Sr. Francisco, mas certamente o braço voltará a estar como novo após o descanso do guerreiro.

Não houve Sr. Francisco mas no seu lugar lá estava o Domingos. Mais jovem, mais gorduxo, mas com a mesma amabilidade.

O sorriso que trazia no rosto era de simpatia mas não só, como ele próprio se apressou a explicar:

- Hoje é sexta-feira! Sabia que aqui a sexta-feira é o dia do homem?

- Como assim?

- Dia do homem xê! Aqui às sextas é proibido proibir, ta a ver?

- Mais ou menos…

- Não vale a pena a mulher ligar a perguntar onde você está. Sexta-feira é mesmo o dia do homem chegar só no sábado a casa. Aqui é assim. Um gajo fica toda a semana a trabalhar, chega na sexta tem que ter um momento de relaxamento, não é?

- É, tou a perceber. Então e costuma relaxar como?

- Epá, fico só mesmo ali na ilha a pitar uma ginguba, a beber uma birra e a ver os navios à espera de entrar no porto. (gargalhada) Você já viu os navios? Tem mais engarrafamento que nessa estrada.

É divertido o Domingos. Mas eu cá continuo a achar que ficar a ver navios não é digno do dia do homem.

P.S. - Já sabem, ler com sotaque!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O Cacimbo

Durante a noite o ar condicionado ainda me permite sonhar. Mas quando ponho o pé fora do quarto o calor é devastador. São 7 da manhã e estamos no cacimbo, onde teoricamente o tempo é mais fresco.

“Espera para veres em Dezembro como é!”

O aviso sério deixa antever dias difíceis…

terça-feira, 19 de maio de 2009

Para ilustrar o recado anterior

segunda-feira, 18 de maio de 2009

"Estás a gostar?"

A pergunta mais frequente é: “Então, estás a gostar? Como é isso por aí?”

Descrever Luanda não é, de todo, tarefa fácil. Sobretudo porque não há termo de comparação possível. Luanda é uma cidade ímpar.

Ímpar no cheiro característico, na bagunça rotineira da cidade, no som que nos entra pela janela logo ao amanhecer… Em tudo, Luanda é única.

Acorda-se cedo por cá. As conversas na rua, em tom exageradamente alto, servem de despertador. Os carros (aos milhares) completam a sinfonia e dão expressão plena ao ambiente da cidade. Tudo se resume ao caos. De trânsito, de pessoas e de gritos.

Os de passo apressado e com horários a cumprir misturam-se com outros tantos que parecem nada esperar da vida. Apenas resistem ali, pelas ruas, à espera que mais um dia passe. Mas também eles fazem parte de Luanda.

Há também os vendedores à beira da estrada. Imensos! O que vendem? Desde a tradicional fruta e cd’s piratas, ao excêntrico mobiliário de escritório. É frequente ter que se dar uma guinada no volante para evitar uma poltrona, ou mesmo uma estante, que insistem em ser peões na cidade de Luanda.

Mas é só quando se caminha pelas ruas que tudo isto tem maior amplitude. O kilometro que me separa de casa é recheado de eventos. A viagem começa ao dobrar de uma esquina onde alguém engraxa os seus “all star” como se fosse o sapato da mais pura pele. Um pouco mais à frente, já depois de passar o muro onde o aviso sério indica que “é proibido mijar haqui” (assim mesmo com “h”), várias senhoras tentam vender-me kwanzas (moeda local). Discretamente, vão exercendo a sua actividade ilegal fazendo o convite apenas com um leve esfregar do polegar no indicador (no gesto universal que significa dinheiro), como que anunciando que ali se trata de negócios.

Ignorando as negociantes, sigo rua abaixo, serpenteando por entre as bacias de goiabas, maçãs, cenouras e tudo o que possam imaginar. O ruído das vozes sempre no máximo. É uma gritaria constante que já não incomoda. O ouvido habitua-se e já não reage. Apenas consegue discernir o conteúdo quando o mesmo tem graus elevados de romantismo, como o suposto piropo: “Porra garina, tas bué bem nutrida no rabo!”

Antes de chegar, tempo ainda para saltar três buracos, na estrada, que os chineses abriram mas esqueceram-se de fechar. Uma zaragata ao fundo não me desvia do destino. Percebo apenas que se tratará de um qualquer caso de infidelidade, a julgar pelos comentários dos espectadores: “Xê, já lhe apanharam e agora vão lhe dar no focinho. Quem manda ser vadio? Tem que apanhar mesmo!”

E Luanda é assim. Não só, mas também assim!

Das praias de água morna só um cheirinho ao Domingo. Sabe a pouco, mas é o que me vale… Mas isso fica para outro recado...

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Sr. Francisco

Final do dia e regresso a casa. A distância não chega a ser de 1km, mas o percurso faz-se em mais de meia hora. É o caos do trânsito de Luanda no seu melhor. Qualquer pessoa pensaria que, sendo o caminho tão curto, fosse mais inteligente ir a pé. Mas foi dia de pagamento do “plafond” mensal, além de que o portátil nas mãos não aconselha a caminhadas, sobretudo após o anoitecer. Há que evitar os riscos!

Entro no carro e a primeira sensação é de choque térmico. Na rua o calor é abrasador e o Sr. Francisco (o motorista) tem sempre o carro em temperaturas de fazer inveja a qualquer frigorífico. Como sempre faço, meto conversa com aquelas frases típicas de quem não tem grande assunto:

- O trânsito está cada vez pior, não é Sr. Francisco?

Ele concordou que era e culpou o estado das estradas para tal pandemónio rodoviário.

Mais um ou dois comentários e a conversa esgotou-se, dando lugar ao rádio que, então, vira o seu volume de som aumentado. O programa era uma espécie de debate público em que o tema era no mínimo insólito. Seria Mito ou Verdade que uma criança que pulasse por uma janela, uma vez na vida, se tornaria ladrão quando adulto?

Logo aqui o Sr. Francisco esboçou um comentário (a ser lido com sotaque)

- Esses gajos fazem programas à toa!

- Realmente. Como se isso tivesse algum cabimento.

- Desde quando é que um dengue* só porque pulou na janela vai virar gatuno? Têm cada uma também…

A indignação do Sr. Francisco teve o seu auge, inesperado, quando um ouvinte conseguiu dizer que acreditava que aquilo era verdade. Conhecia alguém que tinha pulado uma janela quando era criança e hoje era um bandido “bué ladrão mesmo”.

- Sai mas é daí seu burro!! Ficam a falar à toa na rádio pra quê? Vai mas é pra casa! Você sabe mesmo o que está a dizer seu burro?

As palavras eram ditas em direcção ao rádio, como que numa tentativa de se fazer ouvir, do outro lado, pelo ouvinte ridículo.

E estragaram o dia ao Sr. Francisco. Trânsito caótico ainda vá, agora, ter que ouvir aquilo já é demais. O restante do caminho foi feito entre murmúrios, ainda sobre o tema, e leves acenares com a cabeça em jeito de reprovação a tudo aquilo que acabara de ouvir.

É boa pessoa o Sr. Francisco. Lembrem-me de lhe comprar uma lembrança quando for a Portugal.

*denge: diminuitivo da palavra “candengue” que siginifica criança ou, simplesmente, alguém mais novo, na gíria local.

terça-feira, 12 de maio de 2009

O começo

A pedido de várias famílias (na verdade só mesmo do Buda) finalmente arranjei disposição e tempo para criar este espaço. Se a preguiça não vencer, pretendo actualizá-lo frequentemente com o relato das minhas vivências Africanas. Não será muito difícil encontrar algo novo para vos contar. Na verdade, basta caminhar 5 minutos pelas ruas de Luanda que se geram 1001 bons motivos...

É claro que há coisas que escritas perdem a dimensão, portanto, lembrem-me de vos contar, pessoalmente (em Agosto), a história do homem que engraxava os "all star", das "moças bem nutridas no rabo", ou ainda do ponta de lança que marca "bué de golos" aqui na ME.

Prometendo voltar em breve, sejam bem vindos!!!

Abraços e Beijos.