quinta-feira, 29 de julho de 2010

A Senhora Pariu um Cágado

Antes de ir de férias deixo-vos mais uma notícia cá da "banda". Envolve feitiçaria, cágados, partos e detenções. Ou seja, o melhor é verem!



"A polícia também não achou graça à estória e levou a mãe, o bebé cágado e o curandeiro, para apurar a veracidade dos factos." Isto é que são inspectores a sério, que não deixam nada por esclarecer!

Um abraço e até dia 15 de Agosto...

P.S. - "o bebé cágado" é excelente! :D

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O Virgilio


- Dás licença, engenheiro? - perguntou educadamene o Virgilio, do lado de lá da porta.

O Virgilio é um dos nossos chefes de equipa. Homem de formas volumosas e algo desajeitado, é daquelas pessoas com modos rudes, ainda que sem maldade. Mas o que lhe falta em delicadeza, sobra-lhe em humildade e gosto dele por isso.

Dada a autorização, o Virgilio lá entrou, com a sua habitual falta de jeito. Cumprimentou-me com um tímido "bom dia", enquanto, por fora das calças, coçava as "jabulanis" com uma naturalidade surpreendente.

- Vim fazer uma reclamação.

O Virgilio era naturalmente bem disposto e positivo. Gostava de filosofar com frases como "se aqui está a chover, noutro sítio faz sol", ou "todos juntos somos mais unidos que todos sozinhos". Gostava de ver sempre o lado positivo da questão e, por isso mesmo, estranhei a reclamação.

- Então, o que se passa?

- É o pitéu... O cozinheiro agora toda a hora só faz massa. Massa com atum, massa com carne, massa com peixe. É sempre massa! Assim não tá a cuiar e o pessoal quer fazer greve...

De seguida, enquanto ajeitava a "vuvuzela" nas calças, acrescentou:

- No outro dia mesmo, o Peixoto até passou mal. E eu acho que é dessa massa, engenheiro. Começou a ficar com umas febres, o espírito saiu do corpo e voltou! Eu até pensei que ia "campar" ali mesmo! - disse-me, assustado, esbracejando no ar. - Fala só com o cozinheiro pra fazer um arroz ou um funge, de vez em quando, yá? Porque toda a hora massa, epá... - terminou ele, afagando a barriga com a palma da mão aberta, como que querendo demonstrar que a pança merecia melhor.


- Vou falar com ele, não te preocupes. Vamos ver se ele começa a variar a ementa, ok?

- Yá, tá fixe. Dá só um jeito.


Uns dias depois...


- Dás licença, engenheiro? É o Virgilio!

- Entra, Virgilio. Então o cozinheiro, já deixou de fazer só massa?

- Sim, sim, sim... Agora já tá melhor, ontem fez até batata doce. Obrigado, yá? Mas vim aqui por causa de outra maka...

- Então, o que se passa?

- Era só pra pedir o dia de amanhã, pra ir tratar de uns problemas.

- Quais problemas? Vocês não podem estar sempre a faltar, ainda mais agora, no final da obra!

- Sim, eu sei, mas tem que ser mesmo. É que Domingo vou fazer o pedido na minha dama e preciso de ir buscar os mambos do alambamento. Prometo mesmo que é só amanhã, yá?

- Ó Virgilio, adianta eu dizer que não?

- Nada, não adianta engenheiro...

- Então que queres que eu faça? Olha, vai lá e boa sorte nesse pedido. Como se chama a tua noiva?

- Januzália. - respondeu-me ele sorrindo.

Naquele momento eu pressenti que ele teria problemas com os sogros, mas achei melhor não comentar. Desejei-lhe apenas boa sorte e o Virgilio lá foi, em busca do alambamento.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Um pouco de Angola

Ilustrando um passeio pelo interior de Angola...







Quedas de Kalandula:





Pedras Negras de Pungo Andongo:









Barragem de Capanda:






O som de Kalandula:





segunda-feira, 19 de julho de 2010

Feitiço do Mangumbala

Passando em revista a actualidade do país, não pude deixar de me divertir com uma notícia hilariante. Na verdade, a notícia em si nada tem de cómico, já que informa sobre mais um "esquema" no Banco Nacional de Angola, que continua a saque. Engraçados foram os contornos da trama.

E passo a citar o jornal:

"A detenção das duas funcionárias do sector da contabilidade gerou alguma estupefacção entre os colegas, mas disseram alguns companheiros de serviço que nos últimos tempos apresentavam um alto padrão de vida para a sua condição de simples contabilistas.

Como que a tentar fazer jus a uma espécie de novo estilo de vida, contaram alguns colegas que elas apresentaram carros de alta cilindrada, além de muitos outros sinais de riqueza, como a aquisição de residências de luxo em condomínios em Luanda.

No aspecto estético, também terão ajeitado a fisionomia através de frequência de clínicas estéticas no Brasil para onde teriam seguido viagem para se acondicionarem ao novo estatuto e modo de vida."

Se o último parágrafo já diverte, o melhor vem a seguir, ainda segundo o mesmo jornal:

"Algumas operações de busca e captura dos implicados no desfalque do Banco Nacional de Angola, então foragidos, tiveram alguns contornos dignos de filmes de espionagem e contra-espionagem, com um misto também de cenas caricatas.

Este jornal apurou de uma fonte que esteve a acompanhar as diligências para a apreensão de Francisco Mangumbala, estafeta do BNA, que a sua captura teve recortes só vistos em filmes do James Bond.

Contou a fonte que enquanto eram apreendidos outros implicados, alertado para o facto de poder vir a cair nas malhas da polícia também, Mangumbala tratou de se ocultar com o recurso aos serviços de um kimbandeiro e ficou escondido durante algum tempo."

Uma pequena interrupção na narrativa, apenas para uma nota de cultura, que ajudará a perceber o enredo:

Kimbanda significa algo como "cu­ran­deiro" em kimbundu, um idioma bantu falado em Angola. O kimbandeiro é um membro ativo da sua comunidade, é um feiticeiro. Nor­mal­mente vive afastado e não se envolve social­mente.


Mas continuando...

" O mote da sua apreensão foi dado quando, depois de uma diligência bem sucedida das forças combinadas da Polícia e dos serviços de inteligência que lidam com o crime organizado, foi localizada uma construção de sua pertença algures no Benfica, que a equipa dos diligentes selou.

Volvido algum tempo, Mangumbala passa pelo local e dá com a obra selada, entra em alvoroço e de imediato liga para a mulher a dar conta do sucedido, o que para já era indício de que continuva nas preocupações dos investigadores."


E agora o melhor:

"Após a sua localização e tendo-se apercebido que estava a ser seguido por agentes à paisana e da Polícia de Intervenção Rápida, lá para os lados do Rocha Pinto, Francisco Mangumbala intenta o último recurso para tentar escapar à perseguição, seguindo o conselho do kimbandeiro, segundo o qual deveria despejar sobre si uma poção contida numa garrafa. Fê-lo, mas seu sucesso algum.

Atentos aos seus movimentos, os agentes da PIR neutralizaram-no com um safanão que o deixou longe do alcance do milongo e foi logo algemado. Atordoado com os desenvolvimentos dos últimos instantes da sua captura, repetiu várias vezes para os seus captores: "agora sim, já sei que estou preso, mas não me batam só"

Mangumbala encontra-se detido até ao momento."

Para trás, ficou a certeza de que o dinheiro roubado pelo Mangumbala não foi o suficiente para contratar um kimbandeiro em condições. Não sabemos se a tal poção o deveria ter tornado invisível, super sónico ou super forte. Mas eu só consigo imaginar a cara dos polícias ao verem o fulano a esvaziar a garrafinha sobre a cabeça antes da detenção.

Tanta esperteza e tanta ingenuidade, só em Angola...

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O Sábado

Naquela casa os sábados começavam cedo, logo ao primeiro recital do galo do vizinho, a quem o Sr. Juvenal já tinha profetizado um lugar no seu prato, "bem ao lado do funge". Isto ao galo, pois ao vizinho há muito que ele tinha cumprido a promessa de apertar o pescoço "se voltasse a assobiar para as pernas da Dona Isaura".

Com o aproximar da hora do almoço, a família ia chegando e a casa ganhava cada vez mais vida. Da cozinha, onde as mulheres se dividiam em diversas tarefas, saía o maravilhoso cheiro da muamba, que aguçava o apetite dos homens na sala. Ali, os dois genros discutiam o último Petro x D'Agosto, enquanto o Sr. Juvenal tentava resistir aos três netos mais novos, que insistiam em escalá-lo, como se de uma montanha se tratasse. Já o neto mais velho, permanecia ali ao lado, no sofá, com a nova namorada que hoje trouxera para o almoço. Mãos dadas e aquela conversa de romance fresco: “Quem é o meu bebézinho? Sou eu. Quem é a minha fofuxinha? Sou eu”. E depois ele decidiu dizer que jamais se separariam e seriam sempre felizes, o que fez o Sr. Juvenal reagir entredentes: "Tsc, tsc, logo com essa feia?"

A muamba, acompanhada do funge, chegou à mesa e todos a seguiram. Entre o "passa os kiabos", "dá só o sal", "põe mais jindungo" e outras trivialidades, lá se concluiu o repasto sem grandes incidentes. Excepção feita ao momento em que o Sabú, um dos genros, avaliou o tempero como razoável. Bom mesmo era o molho da velha dele "aquilo sim, era muamba!" E foi o outro genro que teve que segurar o Sr. Juvenal, antes que este saltasse para cima do Sabú. Ia dar-lhe uma lição, para ele aprender a ter juízo. Comia de graça e ainda refilava? Pensava o quê, o atrevido? A Dona Isaura também tentou aliviar a tensão pedindo que não ligassem ao marido. "Ele era assim meio..." disse, fazendo um gesto no ar que abria espaço a mil interpretações. O Sr. Juvenal podia ser "assim meio agressivo", "assim meio nervoso", ou simplesmente "assim meio doido".

Após os ânimos serenarem, e já sentados de novo no sofá, o Sr. Juvenal quis saber:

- Vai um digestivo?

Ia, claro! Ele foi à estante onde trancava as suas garrafas e retornou com uma delas, cujo aspecto deixava algo a desejar, obrigando o Sabú a perguntar se era mesmo aquilo que iam beber.

- É, porquê? - perguntou o Sr. Juvenal, agressivo.

- Nada, sirva.

O resto da tarde passou-se em conversas banais, as filhas de um lado contando as novidades à mãe, os genros do outro falando de tudo um pouco. Já o Sr. Juvenal, há muito que aprendera a dominar o truque de segurar no jornal em frente à cara, enquanto dormia sem que ninguém notasse. A maioria das suas tardes eram passadas assim, o que causava estranheza à Dona Isaura, que nunca percebera como um homem que lia tanto podia ser tão mal informado.

E por trás do jornal, ele só reagia quando alguém o incomodava, como foi, naquele dia, o caso do neto mais novo que quis saber o que significava corrupção.

- Pergunta ao teu pai! - disse secamente uma voz por trás do jornal.

Aquilo gerou nova confusão. O Sabú disse que não estava ali para ouvir ironias de um velho que era "assim meio esquisito" e todos concordaram, criticando em conjunto o Sr. Juvenal. Mas ele já tinha o jornal à frente da cara e não quis nem saber...

E aquela tarde agradável terminou ali, até porque o ambiente ficou "assim meio"...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Barbeiro

Chego ao barbeiro e sento-me, enquanto aguardo a minha vez. Já a minha cara estava escondida por trás do “Jornal de Angola” quando ouço o aviso:

- Aguarda só um coche, yá? O outro barbeiro foi só cagar!

Por segundos tentei perceber se aquela informação era dirigida a mim. Parei de ler o jornal, que baixei ligeiramente, o suficiente para poder observar o informador a afagar o bucho com a mão.

- Esses funges às vezes dão cabo de um gajo. Sabes como é, né? O óleo de palma…

Eu preferia não saber como era… Mas não demoraram nem três minutos e lá chegou o “cagão” cheio de vontade de rapar umas cabeças. O artista, que não devia ter mais do que 1,50m, estava cheio de disposição e apressou-se a chamar:

- Quem é o próximo?

Eu olhei para os dois lados, na esperança de haver alguém a quem dar a vez, mas eu era o único. Renitente, lá avancei para a cadeira, enquanto só pensava se aquele anão teria conseguido chegar ao lavatório para lavar as mãos, depois das aflições na casa de banho e antes de me cortar o cabelo.

Meio a contragosto lá me sentei e esperei que o corte começasse. Ele, depois de colocar todas as suas ferramentas em ordem, perguntou curioso:

- E então, corto como?

Eu expliquei e quis certificar-me:

- Percebeu?

- Hum… Yá… Pente 3 né?

- Só dos lados…

- Yá, só! – disse ele, afagando o queixo enquanto olhava para o meu cabelo. Parecia um daqueles artistas, de pincel na mão, a olhar para a tela em branco antes das primeiras pinceladas. Assim estava ele, no caso com o pente na mão, pronto a fazer a sua obra prima.

E lá começou o trabalho enquanto eu seguia tudo atentamente, através do espelho à minha frente. Deslizava a máquina pela minha cabeça e ia cantarolando: “Se eu soubesse não casava com aquela mulataaaaa… A mulata me dizia, que era mesmo delicada, afinal fui ver e é pior que uma cebolaaaa” - Fazia chorar! Explicou depois.

Quando o repertório acabou, e porque o silêncio é coisa que irrita qualquer bom angolano, ele quis meter conversa:

- Será que a Luciana vai voltar a andar?

- Hã?! Quem?

- A Luciana, da novela. Tenho andado preocupado com isso, ela merece andar, né?

- Merece, claro! Ela vai andar de novo, mas só no fim. – respondeu, por mim, o barbeiro do lado.

- Mas aquela irmã dela é que é uma ordinária! – acrescentou um dos clientes que esperava a vez. Largara o jornal para entrar naquele tema, mais interessante.

E, de repente, eu vi-me no meio daquela discussão sobre novelas, entre os três barbeiros e o cliente. Discutiam o assunto como se a Luciana fosse uma filha, prima ou irmã de um deles, tal a vivacidade e importância que dedicavam ao caso.

- Vai ficar careca!

- A Luciana?

- Não, você! Olha só aqui essa falha. – apontou ele batendo com o pente repetidamente na minha cabeça. – A Luciana, aquela gata com bué cabelo ia ficar careca? Você fala à toa, yá?

E depois da minha tentativa falhada de entrar no debate, limitei-me a escutar o resto da conversa. Fiquei a saber que o Bené, no fundo, era boa pessoa, a Madá tinha umas pernas "bem nutridas", rabo idem mas era armada, e sim, a Helena tinha feito bem em deixar o Marcos, que era um bandido.


Eles lá foram discutindo os assuntos polémicos da novela, até que, entretanto, entra no estabelecimento uma senhora anunciando ginguba.

- Mãezinha, tá a quanto?

- Só 100, parente!

- Xê, vou levar para os dengues.


E mais uma paragem no corte, que estava quase no final. Enquanto aguardava a transacção, aproveitei para inspeccionar melhor o trabalho até então feito. Ele, que chegando percebeu a minha atenta análise no espelho, quis saber:

- Tá a ficar bom, né?

- Sim, mas não corte mais, está bom assim.

- Yá, vou só por álcool.

- Álcool?! Álcool onde?

- No pescoço, onde mais?

- Mas pra quê?

- Epá, nem sei, mas o chefe diz que temos que por. Deve ser pra refrescar, ou quê!

Dispensei o álcool.

Fiz o pagamento, conferindo mais uma vez no espelho o resultado, e lá saí. A caminho de casa, no rádio estava a dar um programa, adivinhem, sobre novelas. Pois é, os ouvintes ligavam e falavam das novelas antigas que tinham deixado saudades, dos personagens, etc., reforçando a minha convicção de que o povo Angolano, neste Mundo, é o mais apaixonados por novelas.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Cada vez mais cara

Luanda foi, novamente, considerada a cidade mais cara do Mundo, superando Tóquio que ficou em segundo lugar. Segundo o mesmo estudo, o alojamento em Luanda custa o triplo do que em Lisboa, sendo que uma refeição rápida (o hamburger é geralmente utilizado neste tipo de comparações) custa 12,7 €, contra os 4,65 € de Lisboa.

Para quem cá vive, estes preços não espantam, pois há muito que nos habituámos a pagar valores absurdos por serviços cuja qualidade, muitas vezes, não atinge sequer o mínimo admissível.

Qual o motivo, então, para os valores praticados em Luanda? Para além das taxas de intermediação elevadíssmas, ocorre-me outro que talvez seja o principal: por mais caros que sejam os preços, existe, por cá, sempre alguém com possibilidade de pagar os 9 milhões de dólares que custa um apartamento na Torre do Ambiente, na marginal de Luanda...

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Orientando o Trânsito




"Ah e tal, porque o trânsito em Luanda é caótico..." Pudera!