sábado, 31 de outubro de 2009

Final de Dia



Assim termina mais um dia de trabalho...

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O Comentador

No rádio a noticia dá conta de que, só nos primeiros seis meses do ano, o número de mortes nas estradas angolanas atingiu os dois milhares.

Instado a comentar, o “guru” escolhido para opinar sobre o assunto disse:

- É terrível! Eu olho para esses números e penso na redução drástica do nosso parque automóvel. É, de facto, um assunto grave que devemos combater.


Sem dúvida, até porque isso é o que interessa. As perdas humanas são só um pormenor…

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Para isto não está calor...

Após o episódio do excesso de calor, eis que encontro o personagem principal da história nestes preparos. No extremo oposto ao local onde deveria fazer o seu trabalho, lá estava ele, ensaiando uns passos de dança...


quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Mito ou Verdade III

Desta vez não vou relatar, mas deixar-vos ouvir...


terça-feira, 27 de outubro de 2009

Gestão Desportiva

Trata-se, claramente, de mais um exemplo de má gestão dos clubes de futebol portugueses.

Senão vejamos:

Ir a Lisboa, jogar contra o Benfica, acarreta custos de viagem, alojamento e toda uma logística associada. E para quê? Para levar cinco ou seis... Ora, sendo a goleada a sofrer um dado adquirido, qualquer bom gestor optaria por faltar ao jogo, perdendo assim por falta de comparência. A nível matemático os pontos somados seriam os mesmos, ZERO, mas havia uma poupança, quer económica, quer moral…

Tanto assim é, que já há discussões sobre o assunto, em alguns balneários Portugueses:

- O Mister diz que não quer saber de conversas. Temos mesmo que ir jogar com o Benfica…

- Pô cara, sacanagem! Ele tá doido, é? Nem eu, como esse nome de super-herói, tenho tanta coragem. Pô…

- Madre mia! Tengo miedo por nuestra dignidad! Porque Jesualdo hace esto com nosotros?

Mas o capitão era o mais indignado:

- Se o velho me obriga a jogar dou-lhe uma cabeçada!

(- Oh madre mia, Benfica no, no!)

- Calma Bruno, violência não! Quem sabe até conseguimos fazer um brilharete. Perder por 4 a 0, sei lá. Temos que acreditar!

(- Madre mia, que medo de Di Maria!)

- Sim, sim, e até podemos trocar camisolas com eles, no final! – entusiasmou-se o loiro tatuado.

Mas o Bruno não queria nem saber.

- E o Uruguaio que se cale!



Nota do autor: Embora a conversa se tenha passado no balneário de uma equipa de segundo plano, consta que o assunto é, também, comentado nos principais clubes.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O Verão não é para trabalhar

E o dia começou assim:

- O segurança que venha cá, que eu quero falar com ele.

O carro de um dos nossos colaboradores tinha sido danificado (um vidro partido e uns riscos), tudo porque ele se rejeitara a dar uma notinha aos miúdos que povoavam o estacionamento. Alegou que a empresa tinha lá guarda e, portanto, não precisava de pagar a ninguém.

E o segurança chegou.

- Mandou chamar?

- Mandei, entre, se faz favor.

Ele entrou e foi-se logo sentando. Perna cruzada e chapéu pousado no colo, fez-me saber que estava às ordens. Eu relatei-lhe o caso e quis perceber o que ele tinha a dizer sobre o assunto.

E assim se surpreende alguém:

- Eu sei, engenheiro, eu vi tudo. – diz-me ele, com alguma desilusão, própria de quem queria era novidades.

- Então se viu, não fez nada porquê?

Ele alternou o cruzar das pernas e abriu os braços. Depois, libertou aquele "Bom..." próprio de quem vai iniciar uma explicação perfeitamente natural. Tanto que até aborrece falar naquilo.

- Eu estava na sombra, debaixo da árvore, e o carro estava ao sol. Agora, no Verão, o calor logo de manhã é bué! – justificou-se, cheio de lógica. E certificou-se: - Está a entender, né?

Fiquei imóvel, com o olhar preso naquela figura à minha frente, e mantive-me assim por uns segundos, o tempo necessário para tentar acreditar no que acabara de ouvir. E também para passar a vontade de dar-lhe um puxão de orelhas (no sentido literal da coisa, à encarregado de educação).

Mas a única coisa que consegui fazer foi abanar, repetidamente, a cabeça. Eu já me devia ter habituado…

Depois da dura reprimenda ele lá saiu. E ao cruzar-se com alguém lá fora, soltou:

- Porra, esses gajos não entendem o que é o calor. Um gajo sofre!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Crises Migratórias e Afins

A recente polémica migratória entre a República Democrática do Congo (RDC) e a República Popular de Angola (“banda”), veio despertar no Lopes um novo ódio de estimação. “Eu se vejo um desses Congos à frente, nem sei…”

Apenas um “à parte” (sempre quis fazer um nos meus recados, pelo que agradeço a estas duas nações a oportunidade), para situar os leitores menos informados. Um pouco de informação não faz mal, portanto inteirem-se da situação AQUI.


Voltando ao Lopes…


Ele até nem tinha nada contra o Congo, até hoje. Sempre achou que os piores malandros na terra eram os gregos. Porquê? Ele explicava.

Tinha conhecido um senhor, na sua juventude, que o impressionara imenso. Alguém que lhe contara tudo sobre as barbaridades do Império Grego. Desde então, ele ficara com uma péssima impressão sobre aquele povo. A sua indignação durara até hoje, tanto que se alguém comentava os perigos que ameaçavam a humanidade, como a camada de ozono, a economia mundial ou mesmo o futebol praticado pelo Sporting, ele interferia:

― Eu tenho medo é dos gregos...

E se alguém perguntasse porquê, ele contava com entusiasmo as atrocidades que sabia sobre os gregos (termo genérico que, para ele, incluía todas as raças do Norte da África ao Mar Egeu. Incluindo os gregos). Quando se comentavam as grandes guerras que assolavam o mundo actual, ele limitava-se a dizer aliviado:

- Pelo menos os gregos estão quietos…

E não fosse esta polémica toda e ele jamais descobriria que os gregos são angelicais, comparados aos Congoleses (ou Congos, para ele).

- Eu se vejo um acho que mato. Ai mato… Zairenses**… Pfuuu…



** Mais uma nota de cultura:

República Democrática do Congo, ateriormente denominada de Zaire. O Lopes sabe umas coisas…

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Inocência de Criança (há que perdoar)

Hoje aborreci-me logo ao chegar à obra. Ali, estendido na areia, estava um rapaz, dos seus seis/sete anos, vestindo uma camisa do Porto. E contente, ainda por cima, a julgar pelo sorriso largo. A camisa era velha, gasta pelo tempo e com as cores atenuadas pelo sol.

- Epá, que camisa é essa? Não tens vergonha? – provoquei eu.

Ele, muito sério, respondeu:

- Nada, essa camisa é bem fixe!

- Ainda és muito novo, não sabes das coisas. Bonita é a vermelha do Benfica. Vou trazer-te uma quando for a Portugal, depois deitas essa para o lixo, queres?

- Xê, não quero! O Benfica toda a hora lhe ganham, só perde, perde. Essa aqui é melhor. Podes me trazer uma nova, mas do Porto!

- Tens muito que aprender rapaz, muito… - concluí eu, perante as gargalhadas dos presentes, divertidos (eu também, confesso) com a personalidade do jovem.

E saí dali a pensar em como pode este país acreditar no seu desenvolvimento, se as crianças têm os valores tão adulterados assim...

Sacana do puto!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Os Suínos do Mussulo

Uma das espécies mais abundantes no Mussulo é o porco. Dos pretos e peludos. São às dezenas e passeiam o seu bacon pela praia, num total alheamento e desinteresse por quem esteja por perto. Fazem parte da paisagem.

O Lopes até diz que já viu um a nadar, num dia de maior calor, o que, tendo em conta a aversão que ele nutre pelos bichos não será de estranhar. Sobretudo se pensarmos na hipótese de ter sido ele a atirar o suíno ao mar.

Desconfiado por natureza - daqueles que a primeira coisa que faz, ao ver uma mulher, é verificar se ela tem maçã de Adão, porque hoje em dia nunca se sabe - o Lopes está sempre com a impressão de que está um porco por perto. E com tal animal, que segundo ele está por ali entre a minhoca e o tubarão (na escala evolutiva), é preciso estar prevenido.

- Tome nota do que lhe digo, o porco é um animal traiçoeiro. Ficam por aí a roncar como quem não quer nada, mas sempre atentos…

Tanto que ele arranjara uma fisga.

- É que os sacanas roem tudo. Até o bambú da vedação andavam a ratar, aqui há dias. Mas vão começar a levar umas fisgadas no lombo, para aprenderem.

- Deixe lá os porcos em paz, Lopes.

- Não posso engenheiro. É que além de estragarem tudo eles sujam a obra. São uns porcos, como o nome diz, aliás.

- Mas também não é preciso apedrejar os animais.

- É só em último caso, quando o meu “Xô porco, xô daqui pra fora!” não funciona. Aí, se não obedecem levam. E é vê-los a relinchar, ou lá o que é que os porcos fazem quando estão em sofrimento. - concluiu o Lopes sorrindo, enquanto fechava um olho e esticava o elástico da sua arma, afinando a pontaria.

E desde que arranjou a fisga, lá está o Lopes, volta e meia, a espreitar por entre os coqueiros, à procura do inimigo. Mas consta que a pontaria é fraca, e o mais frequente é vê-lo a correr atrás dos porcos com o seu “xô, xô daqui, seu porco!”



Ilustrando:

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Trânsito

Cada vez que conduzo pelas ruas de Luanda perco-me nas vezes em que encolho os ombros e aceno negativamente com a cabeça, num tom de “enfim, não há nada a fazer…”

Jamais imaginei que fosse possível conduzir-se de forma tão caótica. Ninguém cumpre as regras, seja por anarquia, ou, simplesmente, porque desconhecimento de causa.

Há os que insistem em formar cinco filas de trânsito em estradas onde só há duas faixas (é assim mesmo, duas novas filas nas bermas e ainda uma outra entre as duas faixas), há os que aceleram nas passadeiras, buzinando para os peões nem se atreverem a pôr o pé (onde já se viu quererem atravessar nas passadeiras?), mas os que mais me enervam são os camiões que se passeiam pela faixa da esquerda, devagar, devagarinho, obrigando a uma gincana permanente.

E ontem confirmei porque o fazem. A caminho de casa lá encontro no caminho um camião, numa calma desesperante. Como já calculava, a via da direita estava livre e ele ia na da esquerda apenas porque sim. Como poderia ir na do meio (se houvesse), na da direita, ou até em sentido contrário, se tivesse calhado assim.

Após insistir nos sinais de luzes, sem resultado, lá sou obrigado a uma das recorrentes ultrapassagens pela direita, até que um pouco mais à frente, parado num semáforo, sou sacudido pela grossa buzina do camião. O mesmo que ultrapassara minutos atrás estava ali, desta vez já do lado direito, e o motorista queria conversar.

- Cumé, tavas a fazer sinais de luzes porquê? Tenho algum problema nos pneus, ou quê?

- Não, foi só porque você vinha muito devagar na faixa da esquerda e eu queria passar.

- Ahh… Mas se esse camião não anda mais rápido vou fazer mais como?

- Então devia ir na faixa da direita.

- Ai é? Mas qual é a diferença então? Vai andar devagar na mesma!

- Mas assim os outros podem passar, meu senhor! - disse-lhe eu, num tom entre o impaciente e o didáctico.

Ele parou um pouco e coçou a cabeça, intrigado com o que eu lhe acabara de dizer. Depois perguntou, desconfiado:

- Então e quem vier na direita, depois passa como? Não vai ser igual?

Foi então que eu percebi que não valia a pena insistir naquilo. Até porque o sinal acabara de ficar verde e a diferença entre esquerda e direita estava muito aquém do tempo disponível.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A cozinheira

Hoje houve uma pequena algazarra na obra. Uma coisa controlada, nada de dramático.

Segundo apurei, mais tarde, o epicentro daquela discussão fora uma das cozinheiras do estaleiro que, ao que parece, dividia atenções amorosas por dois dos trabalhadores. O facto não fora surpresa para o Lopes, que via novelas e sabia que aquilo era normal.

Ainda assim, quando a “esbanja amor” o serviu, à hora do almoço, ele não conseguiu evitar um aceno com a cabeça, com os cantos da boca virados para baixo, como quem diz “com que então a senhora, hã? Quem diria…”

Depois veio contar-me alguns pormenores que averiguara sobre aquele triângulo amoroso. Que ela tinha feito um feitiço qualquer e que ele só sabia que metia jindungo esmagado.

- Aquelas coisas lá das macumbas ou o que é! E metia funge também, parece…

E ele narrou-me o enredo completo daquela história, onde fiquei a saber que a cozinheira, além de feiticeira, tinha tendências ninfomaníacas, “o que explica ter enfeitiçado logo dois, não é?”. Acenei com a cabeça que era e ele continuou, dizendo-me que também já notara alguns olhares interessados da senhora. Mas ela não fazia o género dele, que gostava das mulheres mais rechonchudas “com o rabo em forma de pêra, está a ver?”. (E decididamente eu não estava a ver...)

- Até porque o Lopes não é para qualquer uma. Um corpinho cheio de recantos de lazer é só para quem eu quero. - rematou ele, ajeitando a gola da camisa.

E quando foi embora, depois de me contar toda a novela, concluíu:

- Eu realmente sempre a achei assim um pouco... – disse ele, fazendo um gesto indefinido com a mão, sem dizer o que a senhora era. Mas fosse o que fosse, era só um pouco.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Um dia de Praia

Estas coisas são complicadas. Quando o Zé Carlos disse "Que maravilha!" olhando para o mar, ninguém acreditou que aquilo era um simples louvor à natureza.

Mais tarde, já em casa, ele tentava justificar que aquela exaltação era só mesmo por causa do mar. E que não tinha culpa se, por coincidência, nesse mesmo instante a Ana Paula se tivesse levantado para reforçar o óleo brozeador pelo corpo, e “mesmo ali em frente”. E mais, ele nem sequer tinha reparado nas coxas grossas e nas nádegas redondas da Ana Paula. Muito menos no sinal ao pé do umbigo.


- Só faltou assobiares e ofereceres ajuda para passar o bronzeador. Francamente, Zé Carlos, logo tu, um homem da Igreja!

- Mas eu estava a olhar para o mar. E ele estava ali à minha frente, cheio de curvas, quer dizer, de ondas, tão bonito... Aquilo saiu-me.


Mas a Maria Celeste não quis ouvir desculpas. Serviu o ovo estrelado ao Zé Carlos – come e vê se te comportas decentemente - e foi dormir.

Na manhã seguinte os dois casais amigos voltaram a encontrar-se na praia. A Maria Celeste beliscou discretamente o Zé Carlos e disse-lhe, num sussurro:


- Vê lá como te portas, ouviste bem?


E o Zé Carlos, que não queria confusões, abriu o jornal e enterrou a cara nas notícias. Mas instantes depois, a Ana Paula (“que também é uma grande exibicionista”, diria mais tarde a Maria Celeste), levantou-se e repetiu o ritual polémico do dia anterior.

Ouviu-se um suspiro debaixo do jornal.


- O que foi? - perguntou a Maria Celeste agressiva.

- Nada, nada, é este Sporting. - disse o Zé Carlos. - Não sei, mas não estou com fé na manutenção...

- Ah, bom! - disse ela.


E o dia transformou-se num tormento para o Zé Carlos, que não podia nem tossir que todos olhavam desconfiados.


- E esses óculos escuros, Zé Carlos? Pra quê?

- Mas amorzinho, está tanto sol! Posso ferir a retina…

- Tira.

- Mas...

- Tira, Zé Carlos!




Ficção. Mais uma vez alerto que, qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

domingo, 11 de outubro de 2009

Um paraíso chamado Mussulo...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O horizonte de um almoço de Domingo...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Rascunhos no Mussulo II

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O Nativo

O Lopes está cada vez mais Angolano. Segundo o próprio, já está de tal forma inserido no meio que até pensa ter origens na terra, “ali para os lados de Benguela”.

- Eu não tenho traços Africanos, assim de perfil? Diga lá com franqueza, ó engenheiro!

E colocou-se de lado, qual figura egípcia, para que eu pudesse confirmar que de Africano ele nada tinha.

- Olhe que não Lopes...

- Você está com má vontade, caraças! Veja lá bem, aqui assim ó, na parte do nariz.

- Talvez… - disse eu, não querendo retirar-lhe a empolgação de se considerar nativo.

O que é facto é que ele, podendo fisionomicamente nada ter de Africano, já se desenrasca e age como tal. Hoje, vejo-o chegar à obra com o carro cheio de gente.

- Lopes, que malta é esta?

- Eu sei lá! Iam pedindo boleia e eu ia recolhendo os gajos pelo caminho. Só lhes dizia é: “eu não faço paragens, descarrego todos no mesmo sítio”, mas eles aceitavam na mesma.

Abanei a cabeça e fiz-lhe ver que deveria evitar aquelas situações. Primeiro, porque não tinha autorização para isso, segundo porque podia até ser perigoso. Ele não sabia quem eram aquelas pessoas.

E naquele instante eu pensei que ela era, realmente, corajoso ou inconsciente. Aqueles tipos podiam ser bandidos, assassinos, ou, na pior das hipóteses, até podiam ser portistas, sei lá…

Ele concordou que deveria, de facto, ter mais cuidado. Mas ele era assim, um caridoso, o que poderia fazer? Talvez ser mais ajuizado, não é Engenheiro? Seria um bom começo, sem dúvida, concluí eu.

E preparava-se para me virar costas, mas antes insistiu:

- Não, mas repare bem, a sério. Aqui estas feições, veja, talvez ali da zona do Huambo, não?

sábado, 3 de outubro de 2009

Porque uma obra com uma vista assim...





... é só para quem merece!