segunda-feira, 21 de dezembro de 2009


Os Recados voltam em Janeiro...
Até lá, um FELIZ NATAL para todos!!!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A Dança


“Eu sei, eu sei, és a linda portuguesa com quem eu quero casar…”

- Angolana, Angolana! – emendava o Lopes, enquanto “varria” o salão com a cozinheira nos braços.

Gingavam de tal forma, ao sabor da música, que cheguei a temer que algum deles se desconjuntasse.

- Venha daí engenheiro! Olhe bem para esta ginga do Lopes, veja! – gritou, enquanto passava e repassava a parceira por baixo dos braços, obrigando-a a rodopios sem fim. Se ela não caiu tonta no chão, foi apenas porque o Lopes a segurava com firmeza, certamente.

Perguntei a alguém que, como eu, assistia ao show:

- Então, mas o que se passa aqui hoje?

- O Lopes… - respondeu-me ele sorrindo. – Tinha prometido à cozinheira que antes do Natal lhe mostrava o que era dançar. Está a cumprir a promessa!

Terminada a música, e depois de redescobrir o Norte, a cozinheira desafiou:

- Mestre Lopes, agora uma música da terra! Aguentas?

E o Lopes sorriu cheio de doçura, ensaiando três passos para o lado esquerdo, dois para o direito e estendendo a mão à moça. Aquilo serviria de resposta? Ela que pusesse a kizomba, mas é, e deixasse o resto com ele.

E o Mestre dançou. Tomou as rédeas ao ritmo e lá se foi rebolando ao jeito africano, enquanto conduzia o seu par pela sala. De vez em quando esticava as pernas, ao jeito do can-can, e ninguém percebia para quê. Muito menos a cozinheira que escapou por pouco de dois ou três pontapés. Mas tudo aquilo fazia parte da “performance do artista”, como ele explicou depois.

E foi já no decorrer do almoço que ele me confessou, num tom sério.

- Aproveitei e disse a essa cozinheira umas verdades que ela precisava de ouvir.

Ainda lhe perguntei que verdades eram essas, mas ele mostrou-se enigmático:

- Isso são segredos de um “galão” profissional.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Ser Angolano

Ser Angolano é acordar de madrugada e demorar três horas para chegar ao trabalho. É voltar a chegar a casa à noite, depois de mais três horas de engarrafamento, e não ter água na torneira para tomar banho.

Ser Angolano é comer funge todos os sábados. É casar à sexta-feira à noite e ir para o estacionamento do Belas Shopping tirar as fotos, em frente aos jeeps topo de gama. Ou então em frente à estátua do Agostinho Neto, no Largo 1º de Maio.

Ser Angolano é lavar o carro todos os dias. É engraxar os sapatos na rua para dez minutos depois estarem cheios de pó. É falar ao telefone bem alto, para todos ouvirem. Ser Angolano é ver novelas e comentá-las no dia seguinte.

Ser Angolano é não respeitar as regras de trânsito. É conduzir em contra-mão ou sobre os passeios. É dar gasosas aos polícias. Ser Angolano é conduzir sem ter carta de condução.

Ser Angolano é ter sempre um óbito para assistir. É faltar ao trabalho à sexta-feira. E à segunda também. E porque não à quarta?

Ser Angolano é ouvir Kuduro no meio da rua. É dançar Kizomba. É "desaparecer" e desligar o telemóvel à sexta-feira, porque é dia do Homem.

Ser Angolano é urinar na rua com a maior descontracção. E ser Angolana também.

Ser Angolano é ser vaidoso. É usar cachecol quando a temperatura baixa dos 20 graus. É ter sempre uma história para contar.

Ser Angolano é ser isto e muito mais. Ser Angolano é ser diferente.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

João Sabonete

Hoje apresento-vos o João Sabonete, temível guarda de obra, como as imagens a seguir documentam:






Não sei onde aprendeu nem o que pretende fazer com aqueles movimentos todos, mas eu fiquei tonto. E maravilhado...

Decidi também que vou pedir à empresa um guarda assim para a minha obra. Ou isso ou um aumento, tenho que pensar...

sábado, 5 de dezembro de 2009

Sócrates, vem cá ver isto...

O Telejornal noticiava o debate quinzenal da Assembleia, dando conta de mais uma das habituais balbúrdias, com o Sócrates a pedir juizinho ao Paulo Portas, gritos, criancices, enfim… Mais do mesmo.

Curioso, perguntei a quem estava comigo, conhecedor do assunto:

- Aqui nas vossas Assembleias também é assim?

- Não, nada disso. – disse-me ele, sorrindo. - Aqui o Primeiro Ministro leva as perguntas para casa e a seguir responde, dois dias depois!

Ora aí está!

Eu fiquei a imaginar o homem a sair da Assembleia com a caixa das perguntas debaixo do braço. Sócrates, fica a sugestão…

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Conto de Natal

O barco seguia no seu ritmo cansado, o único possível para um motor que já teve melhores dias. E não se pode pedir mais, afinal foram inúmeras as viagens, para lá e para cá, sempre carregado de pessoas e/ou mercadorias. Houve quem dissesse que o facto de aquele motor ainda trabalhar já era, por si só, um milagre. Ao que o Lopes respondeu que "não é milagre nenhum, são os Japoneses". Ninguém fazia motores tão "selvagens e robustos" como os Japoneses...

Mas continuando, lá iamos nós: eu, o marinheiro e um colega recém chegado a estas paragens, quando fomos gentilmente convidados a parar pelos fiscais da polícia marítima.

Os pedidos habituais para "facultar" a documentação, do barco e do marinheiro, e tudo legal. Mas caramba, como podia uma embarcação de recreio, "segundo consta no livrete", não ter uma caixa térmica para guardar bebidas? Estava encontrada a infracção.

O meu colega, inexperiente, ainda tentou insurgir-se contra aquele absurdo, mas eu convideio-o, com uma subtil cotovelada, a deixar-me conduzir a negociação.

"Vamos lá conversar bem então..."

Durante o diálogo fui recordado que estávamos em época natalícia. Tempo de "fazer o bem" e "ajudar o irmão". Tanto que uma colaboração naquele momento vinha mesmo a calhar. Ele comprava "o presente do dengue mais novo e eu podia seguir a minha viagem". A velha lei da reciprocidade...

Fui tocado pelo espírito natalício e lá cheguei à outra margem...

Feliz Natal Sr. Agente!