Cada vez que conduzo pelas ruas de Luanda perco-me nas vezes em que encolho os ombros e aceno negativamente com a cabeça, num tom de “enfim, não há nada a fazer…”
Jamais imaginei que fosse possível conduzir-se de forma tão caótica. Ninguém cumpre as regras, seja por anarquia, ou, simplesmente, porque desconhecimento de causa.
Há os que insistem em formar cinco filas de trânsito em estradas onde só há duas faixas (é assim mesmo, duas novas filas nas bermas e ainda uma outra entre as duas faixas), há os que aceleram nas passadeiras, buzinando para os peões nem se atreverem a pôr o pé (onde já se viu quererem atravessar nas passadeiras?), mas os que mais me enervam são os camiões que se passeiam pela faixa da esquerda, devagar, devagarinho, obrigando a uma gincana permanente.
E ontem confirmei porque o fazem. A caminho de casa lá encontro no caminho um camião, numa calma desesperante. Como já calculava, a via da direita estava livre e ele ia na da esquerda apenas porque sim. Como poderia ir na do meio (se houvesse), na da direita, ou até em sentido contrário, se tivesse calhado assim.
Após insistir nos sinais de luzes, sem resultado, lá sou obrigado a uma das recorrentes ultrapassagens pela direita, até que um pouco mais à frente, parado num semáforo, sou sacudido pela grossa buzina do camião. O mesmo que ultrapassara minutos atrás estava ali, desta vez já do lado direito, e o motorista queria conversar.
- Cumé, tavas a fazer sinais de luzes porquê? Tenho algum problema nos pneus, ou quê?
- Não, foi só porque você vinha muito devagar na faixa da esquerda e eu queria passar.
- Ahh… Mas se esse camião não anda mais rápido vou fazer mais como?
- Então devia ir na faixa da direita.
- Ai é? Mas qual é a diferença então? Vai andar devagar na mesma!
- Mas assim os outros podem passar, meu senhor! - disse-lhe eu, num tom entre o impaciente e o didáctico.
Ele parou um pouco e coçou a cabeça, intrigado com o que eu lhe acabara de dizer. Depois perguntou, desconfiado:
- Então e quem vier na direita, depois passa como? Não vai ser igual?
Foi então que eu percebi que não valia a pena insistir naquilo. Até porque o sinal acabara de ficar verde e a diferença entre esquerda e direita estava muito aquém do tempo disponível.
Há 8 anos
3 comentários:
Caro Ricas, Em Angola é assim...
"Vamos fazer mais como?"
GT
eheheh!Ricas,isso, é ANGOLA NO SEU MELHOR!!!
Beijinhos de todos cá de casa. Continua a deliciar-nos com esses teus "recados" que mostram bem que o povo angolano é DIFERENTE!
ahahahah! Isso só pode ser mesmo em Angola.... Paulinho
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