O nosso transporte para a obra faz-se de barco, bem cedo, logo ao começo do dia. Àquela hora o horizonte esconde-se atrás de uma neblina ténue, que se vai desfazendo aos poucos, revelando a Ilha do Mussulo.
Mas hoje houve uma revelação extra. Sentados na areia estavam dois fiscais da polícia marítima que, ao avistarem um barco cheio de "pulas" (vulgos "indivíduos de raça branca"), levantaram-se num ápice colocando-se em posição profissional. Foi como se vissem um cofre aberto, pairando no ar e vindo em direcção a eles. Arregalaram os olhos, que já brilhavam por esta altura, e saudaram-nos com uma continência.
- Bom dia meus senhores, facultem só a documentação do barco e do marinheiro, yá?
Yá, facultámos. E estava tudo legal. Eles ainda tentaram alegar que os documentos deviam estar plastificados, "porque tão a ver, né? O sal vai acabar por deixar isso tudo amarelo", mas a argumentação foi fraquinha e não teve sucesso ($$$).
E já iamos embora quando:
- Xê, xê, xê, cumé esse colete patrício? Tem um furo! - disse um dos fiscais para um dos passageiros do barco.
E de facto tinha... Um furo tão grande que julgo que dificilmente um grão de areia passasse ali. Mas tinha um furo!
- Epá, eu até nem gosto de complicar, mas vou ter que te multar. A lei diz que o colete tem que estar em condições. Esse tem um furo, vê só! - insistiu ele, apontando o furo com o dedo. E ainda quis investigar: - Quem fez esse furo, afinal?
Como era uma pergunta de resposta impossível, o assunto resolveu-se com 2000 Kwanzas e fomos todos embora. Mas só porque ele não gostava de complicar...
E já eu estava a trabalhar (eu trabalho muito!) quando o marinheiro, que ficara a atracar o barco, me veio contar que também lhe "sugaram" 500 kwanzas. Porquê? Porque o barco deveria ter remos em madeira maciça, e aqueles eram de "qualidade duvidosa".
Limitei-me a sugerir que, da próxima vez, ele comprove na cabeça dos fiscais se os remos são mesmo de madeira maciça.
***
Houve, também, aquele polícia que, após ver e rever toda a documentação do carro e do condutor, nada encontrou de irregular. “Mas e a gasosa, como sacar a gasosa?”, pensou. E desenrascou-se assim:
- Vou ter que te multar, Sr. Condutor…
- A mim?
- Sim, a quem mais?
- Mas porquê? Está tudo legal, os documentos estão aí todos.
- Por desrespeito à autoridade.
- Eu? Mas eu nem disse nada, fiquei aqui quieto.
- Pois é, mas não tirou os óculos escuros enquanto falava comigo. Isso é uma falta de respeito.
E como os documentos só voltam a sair do bolso da autoridade após uma transacção económica, não valia a pena argumentar.
Há 8 anos
1 comentários:
Sempre preocupados com a segurança dos cidadãos. Todos os agentes de segurança de pública deveriam seguir este exemplo...eh!eh!
Abraço Ricardo
SAF
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