sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O Almeida e a Sueca

A notícia deixara o grupo de amigos completamente surpreso, roçando mesmo a indignação, em alguns casos.

Está certo que o Almeida era acarinhado por todos, até pelo seu aspecto franzino, mas isso não lhe dava aquele direito.

- O Almeida com uma sueca? – disse o Jorge, a voz da indignação geral, abrindo os braços como quem espera uma explicação para aquele delito.

E depois justificou a sua revolta. Uma sueca era algo que fugia aos padrões do grupo, quiçá do país. Ninguém deveria ter direito a uma sueca. Ou tinham todos, ou não tinha ninguém! E logo o Almeida? Com aquela cara que um dia a Alzira apelidara de grotesca “para não chamar nada pior”?

Todos concordaram que uma sueca era demais e pediram outra rodada. Havia que afogar a consternação.

- Mas alguém já viu a sueca do Almeida? – perguntou o Xico. – Pode até ser feia…

Mas após debaterem o assunto concluiram que não havia suecas feias e que o Almeida ia ter que se explicar.

Foi quando, não por acaso, o Almeida entrou no bar, acompanhado do assunto principal.

O grupo ficou imóvel, com a respiração suspensa, enquanto apreciavam aquele ser. Pernas grandes e peitos idem, toda ela transbordava beleza. “E muita volúpia”, sugeriu mais tarde o Xico.

- Esta é a Ingrä, a minha namorada. Ingrä com duas bolinhas no a, é sueca. – apresentou o Almeida, cheio de exibicionismo.

E a “Ingrä com duas bolinhas no a” cumprimentou-os a todos, com um “olá, tudo bem?” cheio de sotaque escandinavo. Falava com tanta sensualidade que, se a sua voz pudesse ser engarrafada, seria vendida como afrodisíaco.

Era realmente linda, aquela sueca. Alta e linda. Tão alta e tão linda, que logo todos confirmaram a tese de que o Almeida não tinha direito a ter uma mulher daquelas dimensões. E nem sequer era inveja. Tratava-se, no fundo, de uma questão de justiça.

Durante semanas o Almeida e a sua sueca, que não se largavam um minuto, foram o tema principal da maioria das conversas. Várias correntes de opiniões tentavam encontrar a chave que desvendasse aquele mistério. Uns sugeriam que ele a estava a chantagear de alguma forma, ou que ganhara o Euromilhões e tinha “comprado” a sueca. Outros, com teorias mais criativas, defendiam que ele a salvara da morte, em qualquer circunstância esquisita, e que ela estava com ele por agradecimento. Só mesmo por caridade…

Até que, um dia mais tarde, veio a notícia. O Almeida fora visto sozinho. Já não estava com a sueca!

Naquela mesma mesa, reunidos, os amigos congratularam-se com o sucedido. A terra voltava a girar sem sobressaltos. Estava restabelecida a lógica, segundo a qual uma sueca daquelas não podia ser de um Almeida daqueles.

Parecia claro que só podia ter sido a sueca a cair em si e a deixar o Almeida. Nem se colocou outra hipótese, sequer.

Ainda assim, até por sarcasmo, alguém quis saber o que acontecera.

- Epá - disse o Almeida – As Suecas são complicadas.

Repetiu:

- As suecas são complicadas!

E contou que as suecas eram terrivelmente ciumentas e atrasadas, pois não admitiam que um homem pudesse ter duas ou três namoradas ao mesmo tempo e...

A explicação foi interrompida pelo toque do telemóvel do Almeida.

- Estão a ver? Agora é isto! Desde que a deixei não pára de me ligar. Além de tudo as suecas são insistentes e chatas.

Surpresa geral! O Almeida é que largara a “Ingrä com duas bolinhas no a”!

- É que eu não consigo prender-me a uma mulher só. Eu sou assim... - concluiu o Almeida, encolhendo os ombros, enquanto trincava um rissol e rejeitava a chamada da sueca.

E se com a sueca o Almeida já era o tema principal das conversas, sem a sueca passou a ser o herói do grupo.

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