terça-feira, 3 de novembro de 2009

O Persa

Início do mês e renovações de contratos dos trabalhadores nacionais. Papelada para preencher. Este renova, este não, este sim, este não… E lá pelas tantas:

Xitó Nabungo Salimanda Silva. O Silva ali, perdido no meio do nome.

- Lopes, o Xitó Nabungo costuma faltar muito, não é?

- Uuuuuuuu…

- Tanto assim?

- É verdade. E o gajo até é trabalhador, mas xiça! Apesar disso acho que era bom ele ficar mais um mesito, mas você é que manda.

- É, também tenho boa impressão dele, tirando as faltas. Xitó Nabungo… - repeti eu aquele nome engraçado.

- Persa.

- Diga, Lopes?

- Persa. Xitó Nabungo é um nome com origens Persas.

Tive dificuldade em acreditar na veracidade de tal informação (porque será?), mas, ao mesmo tempo, curiosidade em saber mais sobre aquilo.

- Será, Lopes? Isso não me parece Persa. Soa-me mais a um nome tipicamente Angolano…

- Não senhora! Xitó é Persa e Nabungo Salimanda também. Já o Silva é controverso.

- Ó Lopes, deixe-se de histórias. Qual é a dúvida de que Silva é Português?

- É controverso – insistiu ele fazendo um sinal com a mão, reforçando que aquilo era uma questão dúbia.

- Lopes, origens à parte, chame o Xitó, se faz favor, que preciso de uns dados dele para preencher aqui…

- Ok, até calha bem.

E quando o Xitó chegou, antes que eu pudesse dizer o que quer que fosse, o Lopes avançou:

- Olha lá, o teu nome é Persa, não é?

- Não, é Xitó.

- Sim. Não, mas Xitó não tem a ver com a Pérsia?

- Hum?

- Não é hum, não sabes a origem do teu nome? Tens que te interessar por essas coisas! Ó Engenheiro, ele não sabe, mas garanto-lhe que é Persa.

E o outro, sem perceber nada, ficou ali a apreciar os raciocínios do Lopes, até que eu o chamei. Perguntei-lhe vários dados que fui preenchendo, e por fim quis saber:

- Qual é a sua idade?

- Ya, tenho em média 30 anos. - respondeu-me ele, cheio de certezas. Podia não saber as origens dos nomes, mas sabia a idade, terá pensado.

E após informá-lo que iria ficar mais um mês na obra ele saiu.

De pronto, aparece de novo o Lopes, com uma maçã roída na mão. Encostou-se à obreira da porta e, olhando sempre para a fruta, nos intervalos da deglutição foi dizendo:

- Este tipo se não faltasse tanto era uma máquina.

- Infelizmente esse é um problema recorrente.

- Pois, é uma questão do país. Há sempre um óbito, um paludismo, qualquer coisa. Não se pode lutar contra uma montanha! – filosofou ele.

Já eu fiquei a pensar o que seria aquilo de ter em média 30 anos… Talvez alguém cuja idade variasse sazonalmente mas que, só por orientação, andava sempre ali nos 30… em média!

4 comentários:

Anónimo disse...

Essa da média na idade está demais!ahahah Vou começar a responder assim, sempre que me perguntem a idade(até porque uma mulher nunca gosta de dizer a sua verdadeira idade..eheheh)
O Lopes então, cada vez mais me convenço que deve ser uma "figura ímpar" (o quanto eu precisava de um "Lopes" aqui poder rir-me um bocado nesta pasmaceira!)
Não te esqueças de tirar umas fotos ao Lopes, que toda a malta anda curiosa para o conhecer e eu especialmente, para ver os seus "traços" africanos!ahahah
Continua, Ricas! Angola é o País ideal para quem como tu, tem o dom da escrita com humor!
Beijinhos cá do burgo.
Tia Bela

Ricardo disse...

O Lopes já está retratado! :) Será exibido em breve!

Anónimo disse...

Oi,
dei de caras com o blog sem querer e estou a gostar imenso. Sou angolana e sei bem as makas e o lado cómico que só esta terra tem. Parabéns pelo blog!!Divirto-me imenso a lê-lo e esse tal de Lopes parece-me o máximo:-)

Abraços,
Clara

Ricardo disse...

Obrigado, Clara. Fico feliz que tenha parado por aqui e que se divirta. O objectivo deste blog é esse mesmo :P

Também sou Angolano, embora tenha vivido grande parte da minha vida fora, e tem sido maravilhoso e divertido redescobrir este país :)

Abraço

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