“Se quiser homem casado, pensa duas vezes…” a voz do Heavy C ecoava por todo o quarteirão, anunciando que alguém, naquela rua, hoje dava uma festa de quintal. As festas de quintal são uma das tradições Angolanas com mais adeptos. Por cá, qualquer motivo serve para reunir a família e os amigos numa festa com bastante comida e boa música. E assim era, naquele dia.
Quando entrei no quintal, já a música ia a meio e o mesmo Heavy C informava que:
“Na rua, não da pra se abraçar... na disco, não da pra se roçar... senão mulher vai saber, e é problema que vamos ter...”
Lá dentro, meia dúzia de casais sacudia os corpos ao som da música, ao bom jeito angolano. Os restantes devoravam “Cucas” e serpenteavam por entre as cascatas de marisco, em busca da gamba perfeita. O ambiente estava animado.
- Fiquem e comam à vontade! – instruiu-nos a aniversariante que, dadas as vestimentas, mais parecia uma noiva.
Aliás, a própria festa parecia um casamento e até fotógrafo tinha. E também um outro que carregava as luzes. E os dois passaram o tempo todo de um lado para o outro, o primeiro indicando ao segundo onde queria as luzes, e este desviando convidados e convidadas do caminho, subindo em mesas e fazendo todo o tipo de contorcionismo em nome do profissionalismo. A certa altura, chegou mesmo a bater no ombro da aniversariante para pedir “dá só licença” porque esta estava a fazer sombra.
Muita sombra era o que fazia também o Custódio, queixou-se mais tarde o fotógrafo. Que o gordão não parava quieto e ele não conseguia trabalhar direito!
E de facto o Custódio era um irrequieto. Com arrufos de dançarino, posso garantir que “varreu” o quintal com pelo menos 90% da população feminina da festa. Sacudia as suas companheiras para a esquerda e para a direita e rodopiava em ritmo alucinante. O homem era um artista e há quem jure tê-lo visto mesmo a dar uns apertões na mãe da aniversariante, o gordo!
No outro canto do quintal estavam os mais velhos que, empilhando garrafas vazias na mesa, limitavam-se a apreciar o ambiente.
- Mas vocês não param de beber? - disse uma das amigas da aniversariante. - Que coisa!
E eles pensaram exactamente o mesmo ao ver aquelas coxas afastarem-se, por baixo da saia curta. No caso, que coisas!
Vez ou outra, quando o DJ metia “uma daqueles tempos” lá se atreviam a dar também umas passadas na pista. Mas o avô Bento disse que não dançava mais enquanto “aquele pançudo” não saísse dali. Parece que o Custódio lhe desestabilizara a dança quando, a alta velocidade, passou rodopiando por ele e disse:
- Xê avô, não vais aguentar. Essa dama não é pra ti, cota!
Aquele miúdo pensava o quê? Ele sempre fora um grande bailarino e que o diga a avó Mariquinha que nunca teve pedalada para ele. Até concursos na Vila Alice havia ganho, coisa que esse pançudo nunca fez!
Mas o Custódio não queria nem saber. Não dispensava uma. Dançava e ainda cantarolava acompanhando a música. A camisa, que por esta altura só mantinha um botão apertado, estava já encharcada. Mas um artista não pára, nem mesmo quando “o DJ também não põe aqueles sons que batem a sério, pra esfregar como mandam as regras!”.
Entre danças, comilanças e fotos, lá chegou a hora de apagar as velas. Aos pedidos de discurso e à timidez da aniversariante, respondeu o avô Bento, anunciando que ele mesmo ia falar. “Muitas felicidades e anos de vida, etc, etc” e, ainda ressentido com o Custódio, umas moralidades “pra esses miúdos novos”. Contou que hoje em dia já não se sabia dançar, que era “só agarrar à toa” e perguntou se queriam ver o que eram umas passadas a sério. Mas não houve unanimidade e o avô Bento foi ajudado a descer da cadeira, ainda resmungando e tentando acertar uma ginguba na cabeça do Custódio.
Brindou-se à aniversariante e mal recomeçou a música lá saiu o Custódio, disparado, em busca da próxima dança. O avô Bento, por sua vez, sentou-se no seu canto de pernas cruzadas e cara de “não me chateiem”. E nem mesmo quando a aniversariante o viera convidar para uma dança ele se movera. “Agora é tarde”, resmungou.
Diz quem ficou, que a festa durou até às tantas, como todas em Angola.
Quando entrei no quintal, já a música ia a meio e o mesmo Heavy C informava que:
“Na rua, não da pra se abraçar... na disco, não da pra se roçar... senão mulher vai saber, e é problema que vamos ter...”
Lá dentro, meia dúzia de casais sacudia os corpos ao som da música, ao bom jeito angolano. Os restantes devoravam “Cucas” e serpenteavam por entre as cascatas de marisco, em busca da gamba perfeita. O ambiente estava animado.
- Fiquem e comam à vontade! – instruiu-nos a aniversariante que, dadas as vestimentas, mais parecia uma noiva.
Aliás, a própria festa parecia um casamento e até fotógrafo tinha. E também um outro que carregava as luzes. E os dois passaram o tempo todo de um lado para o outro, o primeiro indicando ao segundo onde queria as luzes, e este desviando convidados e convidadas do caminho, subindo em mesas e fazendo todo o tipo de contorcionismo em nome do profissionalismo. A certa altura, chegou mesmo a bater no ombro da aniversariante para pedir “dá só licença” porque esta estava a fazer sombra.
Muita sombra era o que fazia também o Custódio, queixou-se mais tarde o fotógrafo. Que o gordão não parava quieto e ele não conseguia trabalhar direito!
E de facto o Custódio era um irrequieto. Com arrufos de dançarino, posso garantir que “varreu” o quintal com pelo menos 90% da população feminina da festa. Sacudia as suas companheiras para a esquerda e para a direita e rodopiava em ritmo alucinante. O homem era um artista e há quem jure tê-lo visto mesmo a dar uns apertões na mãe da aniversariante, o gordo!
No outro canto do quintal estavam os mais velhos que, empilhando garrafas vazias na mesa, limitavam-se a apreciar o ambiente.
- Mas vocês não param de beber? - disse uma das amigas da aniversariante. - Que coisa!
E eles pensaram exactamente o mesmo ao ver aquelas coxas afastarem-se, por baixo da saia curta. No caso, que coisas!
Vez ou outra, quando o DJ metia “uma daqueles tempos” lá se atreviam a dar também umas passadas na pista. Mas o avô Bento disse que não dançava mais enquanto “aquele pançudo” não saísse dali. Parece que o Custódio lhe desestabilizara a dança quando, a alta velocidade, passou rodopiando por ele e disse:
- Xê avô, não vais aguentar. Essa dama não é pra ti, cota!
Aquele miúdo pensava o quê? Ele sempre fora um grande bailarino e que o diga a avó Mariquinha que nunca teve pedalada para ele. Até concursos na Vila Alice havia ganho, coisa que esse pançudo nunca fez!
Mas o Custódio não queria nem saber. Não dispensava uma. Dançava e ainda cantarolava acompanhando a música. A camisa, que por esta altura só mantinha um botão apertado, estava já encharcada. Mas um artista não pára, nem mesmo quando “o DJ também não põe aqueles sons que batem a sério, pra esfregar como mandam as regras!”.
Entre danças, comilanças e fotos, lá chegou a hora de apagar as velas. Aos pedidos de discurso e à timidez da aniversariante, respondeu o avô Bento, anunciando que ele mesmo ia falar. “Muitas felicidades e anos de vida, etc, etc” e, ainda ressentido com o Custódio, umas moralidades “pra esses miúdos novos”. Contou que hoje em dia já não se sabia dançar, que era “só agarrar à toa” e perguntou se queriam ver o que eram umas passadas a sério. Mas não houve unanimidade e o avô Bento foi ajudado a descer da cadeira, ainda resmungando e tentando acertar uma ginguba na cabeça do Custódio.
Brindou-se à aniversariante e mal recomeçou a música lá saiu o Custódio, disparado, em busca da próxima dança. O avô Bento, por sua vez, sentou-se no seu canto de pernas cruzadas e cara de “não me chateiem”. E nem mesmo quando a aniversariante o viera convidar para uma dança ele se movera. “Agora é tarde”, resmungou.
Diz quem ficou, que a festa durou até às tantas, como todas em Angola.
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