- Dás licença, engenheiro? - perguntou educadamene o Virgilio, do lado de lá da porta.
O Virgilio é um dos nossos chefes de equipa. Homem de formas volumosas e algo desajeitado, é daquelas pessoas com modos rudes, ainda que sem maldade. Mas o que lhe falta em delicadeza, sobra-lhe em humildade e gosto dele por isso.
Dada a autorização, o Virgilio lá entrou, com a sua habitual falta de jeito. Cumprimentou-me com um tímido "bom dia", enquanto, por fora das calças, coçava as "jabulanis" com uma naturalidade surpreendente.
- Vim fazer uma reclamação.
O Virgilio era naturalmente bem disposto e positivo. Gostava de filosofar com frases como "se aqui está a chover, noutro sítio faz sol", ou "todos juntos somos mais unidos que todos sozinhos". Gostava de ver sempre o lado positivo da questão e, por isso mesmo, estranhei a reclamação.
- Então, o que se passa?
- É o pitéu... O cozinheiro agora toda a hora só faz massa. Massa com atum, massa com carne, massa com peixe. É sempre massa! Assim não tá a cuiar e o pessoal quer fazer greve...
De seguida, enquanto ajeitava a "vuvuzela" nas calças, acrescentou:
- No outro dia mesmo, o Peixoto até passou mal. E eu acho que é dessa massa, engenheiro. Começou a ficar com umas febres, o espírito saiu do corpo e voltou! Eu até pensei que ia "campar" ali mesmo! - disse-me, assustado, esbracejando no ar. - Fala só com o cozinheiro pra fazer um arroz ou um funge, de vez em quando, yá? Porque toda a hora massa, epá... - terminou ele, afagando a barriga com a palma da mão aberta, como que querendo demonstrar que a pança merecia melhor.
- Vou falar com ele, não te preocupes. Vamos ver se ele começa a variar a ementa, ok?
- Yá, tá fixe. Dá só um jeito.
Uns dias depois...
- Dás licença, engenheiro? É o Virgilio!
- Entra, Virgilio. Então o cozinheiro, já deixou de fazer só massa?
- Sim, sim, sim... Agora já tá melhor, ontem fez até batata doce. Obrigado, yá? Mas vim aqui por causa de outra maka...
- Então, o que se passa?
- Era só pra pedir o dia de amanhã, pra ir tratar de uns problemas.
- Quais problemas? Vocês não podem estar sempre a faltar, ainda mais agora, no final da obra!
- Sim, eu sei, mas tem que ser mesmo. É que Domingo vou fazer o pedido na minha dama e preciso de ir buscar os mambos do alambamento. Prometo mesmo que é só amanhã, yá?
- Ó Virgilio, adianta eu dizer que não?
- Nada, não adianta engenheiro...
- Então que queres que eu faça? Olha, vai lá e boa sorte nesse pedido. Como se chama a tua noiva?
- Januzália. - respondeu-me ele sorrindo.
Naquele momento eu pressenti que ele teria problemas com os sogros, mas achei melhor não comentar. Desejei-lhe apenas boa sorte e o Virgilio lá foi, em busca do alambamento.
2 comentários:
Achei ótima essa da "vuvuzela" e "jabulani", eu ri muito disso...muito engraçado seu texto, aliás, inclui "O recados de Angola" na minha lista de blogs favoritos, espero que goste...
ahhh manda um abraço e um beijo para sua tiazona...(lembrou de mim agora?)...em meu nome, tá bom!!
beijinhos querido e ótima semana para vc.
Oi, obrigado pela visita e fico feliz que tenha gostado do blog. Espero que volte sempre e que se divirta por cá :P
Darei o abraço à tia, sim! hehe
Abraço com amizade,
RB
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