Chego ao barbeiro e sento-me, enquanto aguardo a minha vez. Já a minha cara estava escondida por trás do “Jornal de Angola” quando ouço o aviso:
- Aguarda só um coche, yá? O outro barbeiro foi só cagar!
Por segundos tentei perceber se aquela informação era dirigida a mim. Parei de ler o jornal, que baixei ligeiramente, o suficiente para poder observar o informador a afagar o bucho com a mão.
- Esses funges às vezes dão cabo de um gajo. Sabes como é, né? O óleo de palma…
Eu preferia não saber como era… Mas não demoraram nem três minutos e lá chegou o “cagão” cheio de vontade de rapar umas cabeças. O artista, que não devia ter mais do que 1,50m, estava cheio de disposição e apressou-se a chamar:
- Quem é o próximo?
Eu olhei para os dois lados, na esperança de haver alguém a quem dar a vez, mas eu era o único. Renitente, lá avancei para a cadeira, enquanto só pensava se aquele anão teria conseguido chegar ao lavatório para lavar as mãos, depois das aflições na casa de banho e antes de me cortar o cabelo.
Meio a contragosto lá me sentei e esperei que o corte começasse. Ele, depois de colocar todas as suas ferramentas em ordem, perguntou curioso:
- E então, corto como?
Eu expliquei e quis certificar-me:
- Percebeu?
- Hum… Yá… Pente 3 né?
- Só dos lados…
- Yá, só! – disse ele, afagando o queixo enquanto olhava para o meu cabelo. Parecia um daqueles artistas, de pincel na mão, a olhar para a tela em branco antes das primeiras pinceladas. Assim estava ele, no caso com o pente na mão, pronto a fazer a sua obra prima.
E lá começou o trabalho enquanto eu seguia tudo atentamente, através do espelho à minha frente. Deslizava a máquina pela minha cabeça e ia cantarolando: “Se eu soubesse não casava com aquela mulataaaaa… A mulata me dizia, que era mesmo delicada, afinal fui ver e é pior que uma cebolaaaa” - Fazia chorar! Explicou depois.
Quando o repertório acabou, e porque o silêncio é coisa que irrita qualquer bom angolano, ele quis meter conversa:
- Será que a Luciana vai voltar a andar?
- Hã?! Quem?
- A Luciana, da novela. Tenho andado preocupado com isso, ela merece andar, né?
- Merece, claro! Ela vai andar de novo, mas só no fim. – respondeu, por mim, o barbeiro do lado.
- Mas aquela irmã dela é que é uma ordinária! – acrescentou um dos clientes que esperava a vez. Largara o jornal para entrar naquele tema, mais interessante.
E, de repente, eu vi-me no meio daquela discussão sobre novelas, entre os três barbeiros e o cliente. Discutiam o assunto como se a Luciana fosse uma filha, prima ou irmã de um deles, tal a vivacidade e importância que dedicavam ao caso.
- Vai ficar careca!
- A Luciana?
- Não, você! Olha só aqui essa falha. – apontou ele batendo com o pente repetidamente na minha cabeça. – A Luciana, aquela gata com bué cabelo ia ficar careca? Você fala à toa, yá?
E depois da minha tentativa falhada de entrar no debate, limitei-me a escutar o resto da conversa. Fiquei a saber que o Bené, no fundo, era boa pessoa, a Madá tinha umas pernas "bem nutridas", rabo idem mas era armada, e sim, a Helena tinha feito bem em deixar o Marcos, que era um bandido.
- Aguarda só um coche, yá? O outro barbeiro foi só cagar!
Por segundos tentei perceber se aquela informação era dirigida a mim. Parei de ler o jornal, que baixei ligeiramente, o suficiente para poder observar o informador a afagar o bucho com a mão.
- Esses funges às vezes dão cabo de um gajo. Sabes como é, né? O óleo de palma…
Eu preferia não saber como era… Mas não demoraram nem três minutos e lá chegou o “cagão” cheio de vontade de rapar umas cabeças. O artista, que não devia ter mais do que 1,50m, estava cheio de disposição e apressou-se a chamar:
- Quem é o próximo?
Eu olhei para os dois lados, na esperança de haver alguém a quem dar a vez, mas eu era o único. Renitente, lá avancei para a cadeira, enquanto só pensava se aquele anão teria conseguido chegar ao lavatório para lavar as mãos, depois das aflições na casa de banho e antes de me cortar o cabelo.
Meio a contragosto lá me sentei e esperei que o corte começasse. Ele, depois de colocar todas as suas ferramentas em ordem, perguntou curioso:
- E então, corto como?
Eu expliquei e quis certificar-me:
- Percebeu?
- Hum… Yá… Pente 3 né?
- Só dos lados…
- Yá, só! – disse ele, afagando o queixo enquanto olhava para o meu cabelo. Parecia um daqueles artistas, de pincel na mão, a olhar para a tela em branco antes das primeiras pinceladas. Assim estava ele, no caso com o pente na mão, pronto a fazer a sua obra prima.
E lá começou o trabalho enquanto eu seguia tudo atentamente, através do espelho à minha frente. Deslizava a máquina pela minha cabeça e ia cantarolando: “Se eu soubesse não casava com aquela mulataaaaa… A mulata me dizia, que era mesmo delicada, afinal fui ver e é pior que uma cebolaaaa” - Fazia chorar! Explicou depois.
Quando o repertório acabou, e porque o silêncio é coisa que irrita qualquer bom angolano, ele quis meter conversa:
- Será que a Luciana vai voltar a andar?
- Hã?! Quem?
- A Luciana, da novela. Tenho andado preocupado com isso, ela merece andar, né?
- Merece, claro! Ela vai andar de novo, mas só no fim. – respondeu, por mim, o barbeiro do lado.
- Mas aquela irmã dela é que é uma ordinária! – acrescentou um dos clientes que esperava a vez. Largara o jornal para entrar naquele tema, mais interessante.
E, de repente, eu vi-me no meio daquela discussão sobre novelas, entre os três barbeiros e o cliente. Discutiam o assunto como se a Luciana fosse uma filha, prima ou irmã de um deles, tal a vivacidade e importância que dedicavam ao caso.
- Vai ficar careca!
- A Luciana?
- Não, você! Olha só aqui essa falha. – apontou ele batendo com o pente repetidamente na minha cabeça. – A Luciana, aquela gata com bué cabelo ia ficar careca? Você fala à toa, yá?
E depois da minha tentativa falhada de entrar no debate, limitei-me a escutar o resto da conversa. Fiquei a saber que o Bené, no fundo, era boa pessoa, a Madá tinha umas pernas "bem nutridas", rabo idem mas era armada, e sim, a Helena tinha feito bem em deixar o Marcos, que era um bandido.
Eles lá foram discutindo os assuntos polémicos da novela, até que, entretanto, entra no estabelecimento uma senhora anunciando ginguba.
- Mãezinha, tá a quanto?
- Só 100, parente!
- Xê, vou levar para os dengues.
E mais uma paragem no corte, que estava quase no final. Enquanto aguardava a transacção, aproveitei para inspeccionar melhor o trabalho até então feito. Ele, que chegando percebeu a minha atenta análise no espelho, quis saber:
- Tá a ficar bom, né?
- Sim, mas não corte mais, está bom assim.
- Yá, vou só por álcool.
- Álcool?! Álcool onde?
- No pescoço, onde mais?
- Mas pra quê?
- Epá, nem sei, mas o chefe diz que temos que por. Deve ser pra refrescar, ou quê!
Dispensei o álcool.
Fiz o pagamento, conferindo mais uma vez no espelho o resultado, e lá saí. A caminho de casa, no rádio estava a dar um programa, adivinhem, sobre novelas. Pois é, os ouvintes ligavam e falavam das novelas antigas que tinham deixado saudades, dos personagens, etc., reforçando a minha convicção de que o povo Angolano, neste Mundo, é o mais apaixonados por novelas.
5 comentários:
Simplesmente divinal a tua história! Imaginei a tua cara durante o dito corte e não pude deixar de rir!`Realmente o povo angolano é mesmo divertido!
Bj da MIAU
Não sei porque é que te metes no barbeiro aí, quando estás quase a vir a Portugal..., contudo vale a pena pelo ambiente extra.É a "terra"...
GT
O acontecimento já tem algum tempo... Na altura a minha ida para Portugal estava distante e o cabelo não podia esperar :) Além disso, valeu a pena!
Só de imaginar a tua cara... não consigo parar de rir! e tu com as tuas manias da limpeza... imagino!
E de facto... a Luciana careca??? ahahahah
Oi Ricas!
Continuas em forma!ahahahah...
Como a Tânia, não consigo parar de rir a imaginar a tua cara, nesse barbeiro!ahahahahah...
Realmente a nossa terra dá SEMPRE motivos para postagens de qualidade!
Beijos cá do burgo!
Tia Bela.
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