segunda-feira, 18 de maio de 2009

"Estás a gostar?"

A pergunta mais frequente é: “Então, estás a gostar? Como é isso por aí?”

Descrever Luanda não é, de todo, tarefa fácil. Sobretudo porque não há termo de comparação possível. Luanda é uma cidade ímpar.

Ímpar no cheiro característico, na bagunça rotineira da cidade, no som que nos entra pela janela logo ao amanhecer… Em tudo, Luanda é única.

Acorda-se cedo por cá. As conversas na rua, em tom exageradamente alto, servem de despertador. Os carros (aos milhares) completam a sinfonia e dão expressão plena ao ambiente da cidade. Tudo se resume ao caos. De trânsito, de pessoas e de gritos.

Os de passo apressado e com horários a cumprir misturam-se com outros tantos que parecem nada esperar da vida. Apenas resistem ali, pelas ruas, à espera que mais um dia passe. Mas também eles fazem parte de Luanda.

Há também os vendedores à beira da estrada. Imensos! O que vendem? Desde a tradicional fruta e cd’s piratas, ao excêntrico mobiliário de escritório. É frequente ter que se dar uma guinada no volante para evitar uma poltrona, ou mesmo uma estante, que insistem em ser peões na cidade de Luanda.

Mas é só quando se caminha pelas ruas que tudo isto tem maior amplitude. O kilometro que me separa de casa é recheado de eventos. A viagem começa ao dobrar de uma esquina onde alguém engraxa os seus “all star” como se fosse o sapato da mais pura pele. Um pouco mais à frente, já depois de passar o muro onde o aviso sério indica que “é proibido mijar haqui” (assim mesmo com “h”), várias senhoras tentam vender-me kwanzas (moeda local). Discretamente, vão exercendo a sua actividade ilegal fazendo o convite apenas com um leve esfregar do polegar no indicador (no gesto universal que significa dinheiro), como que anunciando que ali se trata de negócios.

Ignorando as negociantes, sigo rua abaixo, serpenteando por entre as bacias de goiabas, maçãs, cenouras e tudo o que possam imaginar. O ruído das vozes sempre no máximo. É uma gritaria constante que já não incomoda. O ouvido habitua-se e já não reage. Apenas consegue discernir o conteúdo quando o mesmo tem graus elevados de romantismo, como o suposto piropo: “Porra garina, tas bué bem nutrida no rabo!”

Antes de chegar, tempo ainda para saltar três buracos, na estrada, que os chineses abriram mas esqueceram-se de fechar. Uma zaragata ao fundo não me desvia do destino. Percebo apenas que se tratará de um qualquer caso de infidelidade, a julgar pelos comentários dos espectadores: “Xê, já lhe apanharam e agora vão lhe dar no focinho. Quem manda ser vadio? Tem que apanhar mesmo!”

E Luanda é assim. Não só, mas também assim!

Das praias de água morna só um cheirinho ao Domingo. Sabe a pouco, mas é o que me vale… Mas isso fica para outro recado...

2 comentários:

Buda disse...

"Porra garina, tas bué bem nutrida no rabo..." LOL Quando dai vieres escreves um livro sobre piropos... vai ser só vender meu amigo!
Abraço,
NS

Anónimo disse...

Bemmmm...ja vi que os piropos ai e os daqui,não são mt diferentes...esquecendo o "bem nutrida",existe smpr aquele"tas ca com um rabo"..eheheh
Foi um aparte,lool...Luanda em tempos foi dita uma das cidades mais bonitas...acredito que ainda tenha a sua beleza propria e unica...

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