Deus experimentou, tirou daqui e pôs acolá, moldou, desfez e refez, até que criou a mulher. De seguida, já cansado (porque a perfeição cansa), resolveu criar o homem e a fadiga fez-se notar no resultado. Duvidou se havia de dar vida ao projecto, mas decidiu arriscar. “A espécie há-de evoluir”, pensou.
E desde então temos tentado melhorar e até acho que temos feito um bom trabalho, apesar de alguns insistirem em remar contra a maré. Começo a animar-me com o facto de que nós, homens, até temos salvação, mas logo entra o Lopes no contentor para me retirar toda a esperança.
- Acho que fiz merda. – atira ele. E fica a olhar para mim, ansioso, como alguém que atira uma moeda a um poço e espera o “plim” no fundo.
- O que foi desta vez Lopes?
- Rompi a conduta de água. Está para ali uma cascata que é uma coisa doida. É preciso você mandar cá vir alguém reparar aquilo urgentemente.
Provavelmente influenciado pela cara que eu fiz, fez uma pausa e continuou:
- Vendo bem nem é assim tão grave, com o calor que está aquilo seca rápido.
É incrível a facilidade que o Lopes tem em minimizar os problemas. Sem grande dificuldade, consigo imaginá-lo na Guiné, na manhã seguinte ao massacre, a dizer à viúva do Nino Vieira: - Mas fora isso Senhora, que tal foi a noite?
- Claro que é grave Lopes. Primeiro porque essa conduta abastece o Palácio, segundo porque não está assim tanto calor e a obra vai ficar um pântano.
- Então tem que mandar cá vir alguém que eu não sei arranjar aquilo.
E antes que eu pudesse dizer alguma coisa ele saiu, mas antes de fechar a porta virou-se e disse:
- Desculpe lá, foi sem querer. Entusiasmei-me com o trabalho e descuidei-me.
Depois de chamar alguém para a reparação tive um último pensamento:
- Que raça, meu Deus! (E consta que Deus encolheu os ombros resignado…)
Há 8 anos
1 comentários:
A culpa é do sr. engenheiro...
Enviar um comentário