Absentismo e Angola é como ser Benfiquista e feliz, uma conjugação perfeitamente normal. Diria até que é uma questão cultural, praticada por 90% (vá, 85%) da população, sendo que o motivo mais frequente para esta elevada taxa é simples: a preguiça. Tirando isso só se falta ao trabalho por outros dois motivos: por tudo e por nada.
Lembro-me que, no início da minha jornada Angolana, alguém me fez a seguinte pergunta (sim, foi o mesmo de sempre, o Lopes):
- Precisamos de dez homens para fazer o trabalho amanhã, quantos mando vir?
A pergunta parecia-me tão descabida que a resposta saiu-me pronta:
- Que tal dez, não?
- É pouco. Têm que ser mais.
- Mas não me disse que precisava de dez homens?
- Mas afinal há quanto tempo está cá em Angola?
- Há pouco, mas porquê?
E o Lopes sorriu com tristeza abrindo os braços como quem diz "É difícil conversar com leigos...".
Depois explicou-me que, dado o elevado grau de absentismo por estes lados, era sempre preciso pedir mais mão de obra do que a realmente necessária.
Acordámos, então, que pediriamos doze homens. Provavelmente apareceriam oito ou nove e já desenrascava.
***
Outro tipo de absentismo é o praticado em “part time”. O pessoal aparece de manhã e quando o calor começa a apertar há sempre um óbito. E é rigoroso, a temperatura passa dos 30º e nunca falha: alguém morre! Alguns são apanhados em flagrante:
- Então não é que a mãe do gajo já é a segunda vez que morre este mês? Eu disse-lhe “Ó Sá, assim não pode ser! Vamos lá a espaçar mais essas mortes…” - relatava-me o Lopes, coberto de indignação.
Não há planeamento que resista e, perante tudo isto, se me perguntarem quando acaba a obra eu tenho a resposta exacta:
- Sei lá...
Há 8 anos
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