sexta-feira, 3 de julho de 2009

Sr. Jorge

Hoje apresento-vos o nosso administrativo. O Sr. Jorge é um homem volumoso em matéria e espírito. É do tipo de pessoas que raramente se irrita, mas que, quando acontece, a luta pode durar três dias.

Segundo o próprio, apenas por uma vez isso sucedeu. E ele até avisou que não suportava espectáculos de ballet. Não tinha paciência para “aqueles pulinhos em bicos dos pés”. Mas a esposa insistira e ele, contrariado, lá fora.

- Não aguentei nem meia hora. Quer dizer, eu já estava agoniado e, como se não bastasse, ainda diz o meu mais novo que quando for grande também quer ser bailarino? Mas que conversa é esta afinal? Peguei no miúdo e saí dali para fora o mais depressa que pude.

Consta que na saída ele ainda chamou o porteiro de bicha e disse que se visse mais alguém de collants, matava!

- Fiquei três dias sem falar à “Maria” mas depois passou. Eu tenho um coração de manteiga…

O Sr. Jorge deve andar na casa dos 50 anos, naquela idade em que já sabe que nunca será o dono de uma grande empresa de construção, conduzindo o Mercedes da praxe, mas ainda pode esperar algumas surpresas da vida, como ganhar o euromilhões ou furar-lhe um pneu. Furou-lhe um pneu.

Chega à obra mais sujo que o próprio carro (que não deve lavar desde que cá chegou) e com a aflição estampada no rosto.

- Estou tramado! Estou desgraçado…

- O que lhe aconteceu homem?

- Furei um pneu quando estava aqui a chegar à Praia do Bispo.

- E então, pelo seu aspecto já o trocou. Agora é só mandar esse para arranjar. Não precisa de ficar assim.

- Não troquei nada. Você nem sabe… Então eu meto o macaco ao sítio e levanto o carro. Nisto vou à mala buscar o outro pneu. Volto e onde estava o macaco? Não é que estes cabrões me levaram o macaco?

- A sério? Num espaço de tempo tão curto conseguiram roubar o macaco?

- E com o carro levantado. Sacanas d’um raio!

- Então e depois?

- Depois?! Depois ainda olhei à volta para ver se via o meu macaco. E não é que quando volto para guardar as coisas e vir pedir um macaco emprestado já lá não estava também o pneu? Eu assim não tenho condições. Isto é remar contra a maré. Assim não dá, não dá…

E lá tivemos que chamar a assistência para que trouxessem um pneu e um macaco. Ao fundo o Sr. Jorge ainda gritou:

- E é melhor um polícia também!

O assunto resolveu-se, mas realmente assim não dá...

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