Há já alguns anos, nos meus saudosos tempos de preparatório, tinhamos um colega de turma que ostentava formas mais volumosas. Por esse mesmo motivo, e por falta de criatividade da nossa parte, a sua alcunha era "gordo". Curto e seco. E o "gordo", que durante muito tempo se conformou com aquela designação, um dia, do qual me lembro como se fosse hoje, revoltou-se:
- A partir de hoje já não quero que me chamem "gordo". Não gosto dessa alcunha. Quero que passem a chamar-me "banana"!
Naquela época de descobertas o espanto era comum entre nós, imberbes, mas ainda assim o sacana do "gordo" conseguiu surpreender-nos. Não só pela revolta do, até então, colega submisso, mas pela sugestão da nova alcunha. Ele até podia querer ser chamado de "bonito", "gostoso", ou até Bruno, que era o seu nome, mas "banana"?!?!
Aquilo não fez sentido a ninguém e, até hoje, ninguém lhe perdoou aquela insolência, até porque o "Tetão" e o "Caganita Africana" sempre aceitaram com humildade as suas alcunhas.
E quem diria que, anos mais tarde, eu teria uma sensação de dejá vu...
Aqui na obra temos um carpinteiro que era, também ele, bem fornido. A sua alcunha era "baleizão", inspirada nos famosos gelados que antigamente se vendiam em Angola e cujas embalagens eram em dose "festa de quintal". Quando o baleizão era anunciado em algum evento, as crianças (e alguns adultos sem juízo) acotovelavam-se para chegar à mesa e disputar o gelado. O que nem sequer se percebia já que, e lá está, o balde de baleizão dava para todos.
Mas voltando ao assunto, o nosso "baleizão" foi de férias e regressou hoje ao trabalho. Após cerca de um mês de ausência veio francamente mais magro, o que motivou o pronto comentário do marinheiro, o Vandame:
- Xê "baleizão", tás bué magro! Assim tás a bazar! Não pitaste nas férias, ou quê?E o outro, com o ar superior e aborrecido de quem tem que explicar banalidades à plebe, respondeu-lhe:
-Aqui não tem mais baleizão nenhum! Você tá a ver baleizão aqui? Eu fiz regime (sempre a influência das novelas brasileiras)
e agora só tenho osso. A "gordurisse" saiu. - Ai, tás armado em magro agora? Pessoal! - anunciou o Vandame, virando-se para os restantes presentes
- Ele agora não é mais baleizão, agora é cadáver!Todos riram, alguém disse “xiiih”, outro disse “xê, tão t'abusar Balê”, e só quem não achou piada foi o alvo da brincadeira que, levantando-se e erguendo o indicador em riste, avisou a todos, "incluindo você, marinheiro de lagoa":
- O Baleizão campou e nasceu o novo madiê! Se alguém me chamar de novo de baleizão eu vou ralhar, tou já a avisar!- Então e assim vamos te chamar o quê? - alguém quis saber.
- Agora sou o "dê uó".- Dê quê?- "Dê uó" seu matumbo. De Denzel Uóxinton! Agora com esse peso fiquei até parecido.